terça-feira, 5 de agosto de 2008

2 Fellinis Geniais

Devo confessar que boa parte da obra de Federico Fellini que assisti me causa sonolência e enfado. Não consigo entrar no clima surreal e bizarro de algumas de suas obras. Por exemplo Oito e Meio (1963) que muitos consideram "a" obra-prima de Fellini foi um experiência um tanto difícil de assistir. Porém nada compensadora. Achei chato, lento e delirante demais. No quesito filme que trata e homenageia o cinema existem obras mais belas, charmosas e consistentes como Crepúsculo dos Deuses (1950) de Billy Wilder e A Noite Americana (1973) de Truffaut. Mas respeito muito Fellini, afinal não posso negar que foi um dos cineastas mais inventivos da história. Só que não consigo assimilar o seu estilo circense. No entanto deixamos de lado um pouco os aspectos negativos que os filmes de Fellini me causaram, aqui vou comentar os únicos filmes que deixaram uma impressão fora de séria e indelével. Filmes geniais, que embora carregue a marca Fellini são muito mais facilmente digeríveis.

Noites de Cabíria (Le Notti di Cabiria,1956)

Único filme de Fellini que posso dizer que adoro totalmente, talvez por pender para o melodrama puro ao invés do surreal. A prostituta Cabíria é antes de tudo Giulietta Masina, que nos filmes de Fellini faz sempre o mesmo papel: um anjo em meio à sujeira e à violência do mundo dos homens. Enternecida por um namorado tímido que acaba se revelando um ladrão (François Perier), fascinada por um astro de cinema que compra seus serviços (Amadeo Nazzari), humilhada por ricos e pobres, Cabíria é toda pureza e esperança. Acredita em hipnotizadores e padres milagreiros, dos quais espera o milagre de casar e ter filhos. O que salva essa trama simples e episódica de ser mais um melodrama sobre a "prostitua de coração de ouro" é a ironia amarga de Fellini, e seu cristianismo cético e heterodoxo, capaz de criar sonhos cintilantes para pulverizá-los em seguida.

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A Doce Vida (La Dolce Vita, 1960)

Marcello é um jornalista que vive nas festas da alta sociedade, relacionando-se com diversas mulheres e descobrindo a falta de sentido na busca do prazer imediato. Vive momentos de prazer, tédio e desencanto, mas não consegue compreender seus próprios sentimentos. O filme há muito transcedeu a sua condição de mero espetáculo do cinema. Visto hoje, tem muito mas os contornos de um evento, de um fato inesquecível para quem viveu o tempo que ele foi feito. La Dolce Vita, de certa forma, antecipou tudo aquilo que aconteceu nos anos 1960. A revolução dos costumes, a contestação de valores, a permissividade sexual, o enfado de se viver quando se chega ao exagero. Provocou com tudo isso uma enorme repercussão, criou modismo e incitou a ira da Igreja Católica ao mostrar com detalhes pessoas consideradas moralmente condenáveis. Além disso o roteiro desfila crises existenciais e intelectuais, introduz lugares que se tornaram turísticos na Via Venetto romana e popularizou a figura dos papparazzi. Mastroianni transformou-se com o sucesso no melhor tipo de galã para o cinema de então e Anita Ekberg (com seu banho na Fontana de Trevi), em uma opulenta atriz de fama internacional. É verdade que na segunda metade do filme, a história se arraste um pouco e faz a atenção do espectador se dispersar um pouco e algumas sequências e idéias são malcusturadas, mas jamais perde a força.

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