Noites de Cabíria (Le Notti di Cabiria,1956)
Único filme de Fellini que posso dizer que adoro totalmente, talvez por pender para o melodrama puro ao invés do surreal. A prostituta Cabíria é antes de tudo Giulietta Masina, que nos filmes de Fellini faz sempre o mesmo papel: um anjo em meio à sujeira e à violência do mundo dos homens. Enternecida por um namorado tímido que acaba se revelando um ladrão (François Perier), fascinada por um astro de cinema que compra seus serviços (Amadeo Nazzari), humilhada por ricos e pobres, Cabíria é toda pureza e esperança. Acredita em hipnotizadores e padres milagreiros, dos quais espera o milagre de casar e ter filhos. O que salva essa trama simples e episódica de ser mais um melodrama sobre a "prostitua de coração de ouro" é a ironia amarga de Fellini, e seu cristianismo cético e heterodoxo, capaz de criar sonhos cintilantes para pulverizá-los em seguida.
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A Doce Vida (La Dolce Vita, 1960)
Marcello é um jornalista que vive nas festas da alta sociedade, relacionando-se com diversas mulheres e descobrindo a falta de sentido na busca do prazer imediato. Vive momentos de prazer, tédio e desencanto, mas não consegue compreender seus próprios sentimentos. O filme há muito transcedeu a sua condição de mero espetáculo do cinema. Visto hoje, tem muito mas os contornos de um evento, de um fato inesquecível para quem viveu o tempo que ele foi feito. La Dolce Vita, de certa forma, antecipou tudo aquilo que aconteceu nos anos 1960. A revolução dos costumes, a contestação de valores, a permissividade sexual, o enfado de se viver quando se chega ao exagero. Provocou com tudo isso uma enorme repercussão, criou modismo e incitou a ira da Igreja Católica ao mostrar com detalhes pessoas consideradas moralmente condenáveis. Além disso o roteiro desfila crises existenciais e intelectuais, introduz lugares que se tornaram turísticos na Via Venetto romana e popularizou a figura dos papparazzi. Mastroianni transformou-se com o sucesso no melhor tipo de galã para o cinema de então e Anita Ekberg (com seu banho na Fontana de Trevi), em uma opulenta atriz de fama internacional. É verdade que na segunda metade do filme, a história se arraste um pouco e faz a atenção do espectador se dispersar um pouco e algumas sequências e idéias são malcusturadas, mas jamais perde a força.
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