terça-feira, 29 de julho de 2008

Bangue-Bangue Take 1

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Quando comecei a apreciar seriamente assistir filmes, estar em cinemas, ler e escrever sobre filmes, nutria grande preconceito sobre westerns. Pesava o fato de ter visto apenas algumas películas totalmente descartáveis. Com o passar do tempo e tendo estabelecido contato com a filmografia de diretores como John Ford, Haword Hawks, Sergio Leone, etc acabei me convencendo que este é um dos gêneros mais ricos, que embora invariavelmente trate de temas específicos e regionais da história americana, é de apelo universal (caso contrário não existiriam os famigerados westerns spaguetti). Começo a falar de dois grandes clássicos, filmados por diretores sem intimidade no western.

Matar ou Morrer (High Noon, 1952)

Os fãs de bangue-bangue não colocam este filme entre seus filmes preferidos. Muito pelo contrário. Fazem sérias ressalvas ao faroeste de Fred Zinnemann. Por sua vez, os críticos (principalmente aqueles que não gostam de westerns) adoram o filme. O longa-metragem é quase sempre citado como um dos marcos do gênero, ao lado de Os Brutos Também Amam (1953). Falso western? Obra-prima? Só assistindo para definir.

O enredo é bastante simples. Numa cidadezinha do Velho Oeste, durante uma manhã tórrida de domingo, o xerife Will Kane (gary Cooper) se casa com Amy (Grace Kelly), uma jovenzinha um tanto B00006JMRE.01.LZZZZZZZcarola. Pendura a estrela e o coldre. Vai começar uma nova vida bem longe dali. Um telegrama muda tudo. Traz a notícia que Frank Miller(Ian McDonald), o criminoso que Kane mandou para a cadeia há alguns anos (e jurou matá-lo) obteve liberdade condicional e pegou o trem que chega ao meio-dia. É aconselhado a ir embora, conforme o planejado. Mas volta atrás e resolve ficar para o acerto de contas. Narrado em tempo real (a duração corresponde ao tempo em que a trama se desenrola), o filme está repleto de imagens de relógios, aumentando a atmosfera de suspense à medida que os ponteiros se aproximan do meio-dia. Neste período o xerife tenta a todo o custo arregimentar parceiros para ajudá-lo a enfrentar o fora-da-lei. Aqui e ali as dissidências vão aumentando, até que culminam num incontornável isolamento de Kane. A covardia dos moradores foi interpretada como uma crítica ao macarthismo.

Há muitos outros elementos em Matar ou Morrer que diferenciam da maioria dos faroestes. Um deles sem dúvida é o perfil psicológicodos personagens. Mocinho e bandido são bons e maus por motivos bem definidos. O protagonista, principalmente, tem um passado a esconder. O duelo com o vilão é a chance de se confrontar com esse passado para aí pensar no futuro. Nesse sentido a cena em que passado o embate e ele joga a estrela no chão é emblemática. Consciência, bravura, solidão e medo reverberam com força em Matar ou Morrer, que na realidade é um antiwestern que se transformou, com o passar dos anos, numa obra-prima do gênero.

☺☺☺

Johnny Guitar (Idem, 1954)

A genialidade de Nicholas Ray, ao lado do roterista Philip Yordan, fez do perturbador Johnny Guitar algo que já foi apelidado de western dialético-edipiano. O Johnny_Guitarguitarman Johnny (Sterling Hayden) e a enérgica Vienna (só poderia ter sido Joan Crawford), dona do saloon, representam a abertura para o novo e são favoráveis à construção de uma via férrea. Entram em confronto com a frustrada Emma (Mercedes McCambridge), líder dos homens do lugarejo, todos vestidos de negro, que defendem a imutabilidade do modo de vida local contra os forasteiros.

A marcação teatral explora tensões sexuais, tratando-as por formas simbólicas (o revólver como potência sexual, o silêncio como repressão etc.). O ápice é o encontro final entre Vienna e Emma. Ambíguas, masculinas e carentes ao mesmo tempo, elas não disputam velocidade como os homens, mas parecem medir-se na estética que se revela na maneira como seguram pistolas. Um duelo de armas e tensão psicológica.

☺☺☺☺

segunda-feira, 28 de julho de 2008

2 Clássicos Setentistas

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Sob o Domínio do Medo (Straw Dogs, 1971)

O primeiro não western de Sam Peckinpah estava fadado a tornar-se uma das obras mais polêmicas do cinema americano, por sua violência explícita, assumida e legitimada. E bem difícil de assimilar em um contexto moderno do que no velho oeste...Mesmo hoje, depois da vulgarização da porrada nas fábulas trogloditas, o filme é profundamente inquietante, menos pela explosão do ódio (quase que totalmente reservada para as sequências finais) do que pela crueldade e pela mesquinharia que vão engendrando.

Dustin Hoffman (magnífico na composição e transformação de seu tipo) é o professor de matemática, um pacato acadêmico americano que procura refúgio na cidade de origem de sua jovem esposa, na Escócia, para preparar sua tese. Grave engano. Os rapazes da aldeia, enciumados daquele banana com quem a bela Susan George voltou casada, têm ainda que trabalhar sob suas ordens, na reforma de sua casa isolada. A mulher, entediada e afetada em seu novo status, mexe com os provincianos de maneira pouco aconselhavel. O professor vai sustentando o clima como pode, contra uma escalada de provocações, que vai descambando para a violência. Sexual, inclusive.

Uma questão local, a família que quer justiçar o débil mental que assassinou, inadivertidamente sua caçula namoradeira, vai precipitar a fúria do matemático em defesa de seu "castelo", no qual por acaso o débil se alojou. A partir daí, em pleno domínio do dialeto da violência, Peckinpah desenrola, expõe, saboreia plano a plano, ora na câmera lenta ora em cortes rápidos, uma verdadeira chacina. Um dos filmes mais angustiantes de todos os tempos e mais sedutor representante da corrente da justiça-pelas-próprias-mãos. Uma experiência lacinante.

☺☺☺☺

O Último Tango em Paris (Le Denier Tando à Paris, 1972)

Na época do lançamento do filme não se falava em outra coisa: um apartamento decrépito em Paris, os encontros clandestinos entre Marlon Brando e Maria Schneider, aquela barra de mateiga... Dirigido por Bernardo Bertolucci, O Último Tango ganhou imediatamente o status de uma obra-prima , tão escandalosa quanto inovadora. Ao vê-lo, a crítica americana Pauline Kael escreveu que Brando e Bertolucci haviam mudado "a face de uma forma de arte". No filme Brando faz um desses personagens clássicos da ficção de cunho existencialista, um americano desgarrado, em todos os sentidos , na França. Sua mulher acabou de se matar. Como reação, ele envolve uma jovem desconhecida numa relação de sexo mutuamente destrutivo. Ela entra no jogo para, presume-se, fugir à sua vida burguesa.

Dito assim, parece que a essência do filme continua intacta, dor, perplexidade e frustração, afinal, são matéria-prima sem prazo de validade. Acredito que quem viu na época tenha na memória uma lembrança de impacto e descoberta. É chocante , portanto, constatar como Último Tango envelheceu, e mal. O naturalismo forjado das interpretações, em especial a da fraquíssima Maria Schneider (é inacreditável que ela tenha ainda trabalhado com outro diretor de renome como Antonioni, sendo tão má atriz e nem sendo lá muito bonita), os diálogos que soam como arengas e a "crítica" primária ao segmento da nouvelle vague liderado por François Truffaut (na figura dio cineasta estúpido vivido por Jean-Pierre Léaud, que foi alter-ego do diretor francês em vários de seus filmes) tiram do filme muito de sua aura. Como Bertolucci é um grande cineasta, ele alcança um ou outro momento de beleza. Mas eles são minoria. Também Brando tem ao menos uma cena antológica, a do monólogo junto ao caixão de sua mulher. De resto, ele se sai com uma atuação quase monocromática. Resumindo: ver o Último Tango hoje é uma completa decepção para cinéfilos atuais, mas que faz até pensar e considerar os rumos do cinema desde então: a das promessas que pareciam libertadoras e definitivas, mas não chegaram a se cumprir.

☺☺

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Gangsteres


Chegou ontem ao fim minha pequena peregrinação pelos filmes de gangsteres lançados em DVD na coleção da Warner. Todos estão em cópias caprichadas, contendo um pequeno documentário sobre a produção, cartoons da época e trailer original. Um presente para os fãs. Eu que não era fã virei. E virei especialmente fã de James Cagney que protagoniza quatro dos seis títulos.

Alma no Lodo (Little Caesar, 1930) História da ascensão e queda de Enrico Bandelo ou simplesmente Rico (Robert G. Robinson) que de marginalzinho passa a chefão da máfia de Chicago. O filme envelheceu um bocado, mas foi um dos pilares do gênero gangster. Existe inúmeras falhas de roteiro, interpretação e técnica. Mas fico imaginando o efeito que causou na época. O cinema sonoro estava dando seus primeiros passos e é notável como o filme utiliza bem o som através do barulho das metralhadoras e de alguns bons diálogos. Também é filme dirigido (por Mervyn LeRoy) com muita agilidade e sem maneirismo teatrais (como se pode ver em vários filmes da mesma época). A fala final é antológica. ☺☺☺

*Existe uma interessante crítica feita sobre o filme por Régis Trigo no Cineplayers neste link.

Inimigo Público nº 1 (The Public Enemy,1931) Este aqui já é bem mais interessante e bem feito, mesmo visto 77 anos depois ainda causa impacto, sobretudo na cruel cena final. James Cagney é Tom Powers, um bandido que vive na época da Lei Seca. O filme acompanha Powers desde a infância como Ladrãozinho ao lado de um amigo, até sua ascensão meteórica no mundo do crime. Neste filme Cagney forjou sua persona de gangster cruel, isso graças a um golpe de sorte, já que estava escalado para um papel menor. Talvez seja o talento de Cagney que torne esse filme tão interessante, ele consegue causar repulsa com a mesma facilidade que causa simpatia lançando um de seus olhares ou trejeitos. Há também a participação em um pequeno mais marcante papel de Jean Harlow, que prova que beleza não põe mesa. Não que fosse talentosa, mas ela tinha uma presença forte em cena. Dirigido por William A. Wellman do premiado filme Asas (1929). ☺☺☺

Floresta Petrificada (The Petrified Forest, 1936) No espaço claustrofóbico de um bar no meio do deserto, onde um gangter foragido (Humphrey Bogart) as mantém como reféns, o medo e a tensão faz as personagens de Floresta Petrificada se despirem psicologicamente. O frustrado escritor Alan Squier (Leslie Howard) encontra uma forma insólita e intensa de demonstrar o amor recém- descoberto por Gabrielle (Bette Davis, surpreendente bonita antes de virar megera em dezenas de filmes), a garçonete do bar, que lê poesias e sonha em voltar a França, onde nasceu. É teatro filmado dos mais palavrosos, a primeira parte é muito cansativa, e é só quando entra em cena o personagem durão de Bogart que a coisa fica mais interessante, porém não o sufiente. O mais fraco da seleção, que nem se justifica muito como filme de gangster. E o talento de Davis é muito mal aproveitado pelo diretor Archie Mayo. ☺☺

Anjos de Cara Suja (Angels With Dirty Faces, 1938) Rocky Sullivan, personagem de James Cagney, é conhecido no bairro onde vive por sua trajetória no submundo do crime e visto como um herói pelas crianças da cidade que tentam seguir seus passos. O Padre Connolly (Pat O' Brien), que foi criado na mesma vizinhança, tenta acabar com a influência de Rocky sobre o bairro. O final surpreendente de Anjos de Cara Suja torna a obra inesquecível. Há ainda a primeira parceria de Cagney com Humphrey Bogart. Competente a direção de Michael Curtiz, um diretor subestimado, que só é lembrado hoje em dia por Casablanca (1942). ☺☺☺☺

Heróis Esquecidos (The Roaring Twenties, 1939) O ponto de partida de Heróis Esquecidos são os noticiários da época da Lei Seca. O longa segue a trajetória do veterano de guerra Eddie Bartlett (Cagney) que, após ficar desempregado, entra para o comércio ilegal de bebidas. Quando seus negócios começam a prosperar, ele tem que enfrentar duras batalhas, incluindo aí um inesquecível confronto com Humphrey Bogart. Filmaço de Raoul Walsh, um dos mestres clássico de ação/aventura. ☺☺☺☺

Fúria Sanguinária (White Heat, 1949) A obra trata da vida de Cody Jarrett, um homem de temperamento impulsivo, dentro e fora da cadeia. Jarrett assassina um cúmplice ferido e se diverte com o ato. Ele rejeita sua mulher, mas venera sua mãe possessiva. A interpretação de James Cagney, que vive Jarret, é considerada uma das melhores de sua carreira, e não é à toa, embora o filme já seja excelente e conte com uma direção primorosa de Raoul Walsh, Cagney é toda a alma do filme, misturando sarcasmo e crueldade de maneira sensacional. Foi o primeiro filme dele que eu vi, o que me impressionou demais, não esperava que o filme fosse tão bom e forte, apesar de todo um histórico de filmes violentos que vi. Resumindo: um dos meus filmes preferidos. ☺☺☺☺☺

terça-feira, 22 de julho de 2008

1 Drama e 3 Comédias


Belo momento para se comentar algumas comédias ensandecidas que assisti, excluindo, claro, O Beijo Amargo que vi no domingo e que me causou uma impressão tão forte que não via hora de comentar e inclui nesse post que pretendia reservar as comédia. Enfim...

  • O Beijo Amargo (The Naked Kiss, 1964) É estranho o rótulo de film noir que acompanha este filme. De noir mesmo só tem a bela fotografia em preto e branco e uma loira, mas esta loira não tem nada de fatal. Kelly (Constance Towers) é uma prostituta que logo na genial abertura que antecede os créditos bate furiosamente em seu cafetão com uma garrafa (uma surpresa é reservada nessa cena que mostra bem o estilo decadente que o filme vai orquestrar). Dois anos depois ela vai parar em Grantville, uma daquelas típicas cidades interioranas americanas, cheia de gente falsamente bondosa e moralista. Ao passar uma noite com um policial ela abruptamente decide largar a vida de prostituta e começa a trabalhar num hospital que trata de crianças deficientes. Ela parece tirar a sorte grande quando o jovem milionário da cidade se apaixona por ela e a pede em casamento, mesmo sabendo do seu passado. É quando o filme de Samuel Fuller mostra a que veio. Um pertado contra o preconceito, moralismo, corrupção policial, pedofilia, etc. Se analisarmos bem a época que foi realizado (o código de Hayes de censura ainda estava bem vigente no cinema americano) podemos considerar O Beijo Amargo um filme audacioso e de muita coragem de seu realizador. Apesar de alguns furos no roteiro, nada chega a estragar a sessão. Pena que Fuller ainda é um ilustre diretor desconhecido no Brasil e que devido o conteúdo polêmico de suas obras teve muita dificuldade de filmar nos EUA. ☺☺☺☺
  • Quanto Mais Quente Melhor (Some Like it Hot, 1959) Uma das melhores comédias de todos os tempos (alguns garantem "a melhor"), misturando humor e gangsterismo de maneira até então inédita. Joe (Tony Custis) e Jerry (Jack Lemmon) são dois músicos de jazz que, por azar, presenciam o famoso massacre do Dia dos Namorados, em que uma quadrilha chacina mafiosos rivais numa garagem de Chicago, em 1929. Para escapar dos gangsters, eles se disfarçam de mulher e ingressam numa orquestra feminina, viajando de trem até Miami. No papel de vocalista do grupo musical com quem a dupla se envolve, Marilyn Monroe oferece uma atuação exuberante. A ação é frenética, os diálogos perfeitos e o humor, irresistível. A fotografia recria a atmosfera dos velhos filmes de gangsters. O diretor Billy Wilder realizaria no ano seguinte mais uma obra- prima, o premiado Se Meu Apartamento Falasse, mas depois não fez mais nada digno de seu passado estupendo, que incluem Crepúsculo dos Deuses (1950) e A Montanha dos Sete Abutres (1951). Ainda assim é um dos melhores diretores do cinema. Atenção para última fala, antológica. ☺☺☺☺☺
  • A Vida de Brian (Life of Brian, 1979) Esse filme já havia visto alguns anos atrás em uma cópia VHS horrível. Assistir esta preciosidade do Monty Pynthon em DVD recheado de extras (incluindo cenas deletadas) é um deleite para os fãs. Guiados por uma estrela cadente, três Reis magos chegam a um casebre onde acaba de nascer um menino. Após presenteá-lo como se fosse o Senhor, eles se dão conta de que o rebento não passa de um simples mortal chamado Brian. A hilariante sequência inicial mais do que prepara o espectador para o que virá a seguir: uma avalanche de humor que transita entre o inteligente sarcástico a mais pura grosseria. Aos 33 anos, vivendo em Jerusalém, Brian enfrentará um calvário de confusões tentando convencer multidões de que não é o Messias. È a oportunidade para o grupo Monty Pynthon destilar sua sátira à religião judaica e cristã, recorrendo às soluções mais inesperadas e absurdas. ☺☺☺☺☺
  • Um Assaltante Bem Trapalhão (Take The Money and Run, 1969) Que mania é essa de colocar alguns termos deslocados nas traduções dos títulos de algumas produções, especialmente nas comédias. È um tal de "do barulho", "muito louco" e este "trapalhão". Dá uma impressão equivocada no espectador, pensando ver um filme de besteirol qualquer. Não sou fã de Woody Allen, apesar de achar legal os filmes que assisti dele. Falta eu ver filmes fundamentais do diretor como Hannah e suas Irmãs (1986), Manhatan (1979) e seus filmes "Bergmanianos" os quais eu sempre nutri um grande preconceito (talvez por gostar muito de Bergman). Take The Money... é o seu primeiro trabalho na direção. Considerado por alguns intusiastas como seu filme mais engraçado, é, contudo um trabalho desigual. Gagman desde os tempos do colégio, como diretor acaba não indo além de costurar as divertidíssimas piadas e situações de seu roteiro episódico. Utilizando-se de depoimentos fictícios (algo que seria aprimorado as alturas em Zelig de 1983) e algumas cenas de produções mais antigas, o filme desenvolve a biografia de Virgil Starkwell (Allen), o assaltante trapalhão. A cena do revolver de sabão e do assalto ao banco com um bilhete no entanto são duas das melhores gags da galeria de Woody Allen. ☺☺☺

sábado, 19 de julho de 2008

Do Romance à Ficção- Científica


Na minha viagem sobre a obra de Hitchcock acabei deixando de comentar alguns filmes que assisti no período. Vou começar pelos que melhor impressão me causaram, já que não gosto muito de ficar enchendo linguiça falando das podreiras que vi, mas chegará o seu tempo.

  • Lua de Fel (Bitter Moon, 1992) Roman Polanski nunca foi um cineasta previsível, independente dos altos (O Pianista) e baixos (Oliver Twist) das suas produções dos últimos anos. Ele tem no currículo, porém fantasias masoquistas e assustadoras como Repulsa ao Sexo (que já comentei). É deste filme que Lua de Fel mais se aproxima, mostrando o universo do casal Oscar (Peter Coyote) e Mimi (Emmanuelle Seigner), que explora obsessivamente todas as variantes sexuais possíveis. Eles se ligam a Nigel, um inglês certinho (Hugh Grant) que encontram em um cruzeiro marítimo. Enquanto Oscar e Mimi se atormentam entre a dor e paixão, o casal Nigel e Fiona (Kristin Scott-Thomas) busca exotismo em uma viagem à Índia, comemorando um casamento convencional que dura sete anos. O mistério da forte ligação entre Oscar e Mimi- um escritor frustrado e uma dançarina-, porém, alimenta a trama com tensão, crueldade e uma dose inevitável de mistério. Afinal, o que explica uma escolha afetiva? ☺☺☺
  • Macbeth- Reinado de Sangue (Macbeth, 1948) Feiticeiras profetizam um reinado de sangue quando Macbeth usa todas as forças para tornar-se rei da Escócia. Orson Welles sempre foi obcecado pelos temas da ambição, da traição e do poder. Assim, não foi por acaso que escolheu esta grande tragédia shakesperiana. Utilizando praticamente a mesma equipe de sua montagem da peça, Welles filmou seu Macbeth nos precários estúdios da Republic em 28 dias, ao custo de 800 mil dólares. O resultado de tour de force é uma tragédia expressionista, ao mesmo tempo fiel e transgressora em relação ao texto original. Com cenários e figurinos estilizados, paisagens lunares, sombras fantasmagóricas e enquadramentos oblíquos, o cineasta (em atuação memorável no papel-título) torna visível e quase palpável o inferno espiritual de Macbeth. Ainda assim prefiro a versão sangrenta que Roman Polanski realizou em 1971. ☺☺☺
  • Uma Lição de Amor (En Lektion i kärlek, 1954) Na mesma linha de Sorrisos de uma Noite de Amor, esta é mais uma comédia romântica de Ingmar Bergman antes da consagração definitiva por O Sétimo Selo e Morangos Silvestres (ambos de 1957). É daquele tipo de filme que se assisti sempre com um sorriso no rosto, não por ser engraçado, mas por ser extremamente agradável. Na história David (Gunnar Bjornstrand) e Marianne (Eva Dahlbeck) casados há 15 anos, revelam um ao outro que possuem amantes. Ele a trai com uma de suas pacientes e ela com um ex-namorado. Quando a Marianne viaja para encontrar o amante, David vai atrás em busca de uma reconciliação. O filme é praticamente feito de recordações, algo que Bergman sabe filmar com louvor. A pergunta que fica é, afinal do que se constitui um relacionamento? É isso que Bergman talvez queira estudar, apesar da aparente leveza do filme (eu não me iludo mais com seu filmes "leves", geralmente há interessantes significados embutidos). ☺☺☺
  • Metrópolis (Metropolis, 1926) Um dos últimos e mais fascinantes exemplos do cinema mudo (que acabaria no ano seguinte, com O Cantor de Jazz). É também um dos marcos da ficção científica, cujas influências chegam mais perceptivelmente em Blade Runner (1982) e nas ficções atuais. Seu espetacular desempenhode produção art déco futurista já basta para torná-lo um dos grandes clássicos do cinema expressionista alemão. A história não passa de um libelo simplista sobre uma sociedade injusta, que oprime trabalhadores e protege elites ociosas. Mas a narrativa épica de Fritz Lang (como nas inesquecíveis sequências com as massas de escravos-zumbis entrando nas fábricas) compensa qualquer ingenuidade. De quebra, há ainda o primeiro e mais bonito robô da história do cinema. Já as técnicas de interpretação no cinema mudo visavam algo completamente estilizado e artificial, que pudesse ao mesmo tempo prescindir dos diálogos falados e compensar sua ausência. Repare nas bizarras expressões faciais que a atriz Brigitte Helm usa para diferenciar seu papel duplo como Maria e o robô-sósia. Preciso urgente conhecer um pouco mais da obra de Lang, este foi o primeiro filme que assisti do cineasta. ☺☺☺☺☺

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Hitchcock Parte III


Bom chego agora para a última parte de comentários dos filmes que assisti de Hitchcock Pensando bem, como pretendo ver filmes "inéditos" para mim do mestre, acredito que não seja assim de fato a última parte. Foi incrível recordar as obras desse maravilhoso cineasta e o que me da a idéia de fazer isso com outros diretores que adoro, como certo modo também já fiz com Roman Polanski.
  • O Terceiro Tiro (The Trouble With Harry, 1955) Um Hitchcock atípico (mas não menos brilhante), que privilegia o humor negro em lugar do suspense habitual. Num bucólico vilarejo da Nova Inglaterra, um garoto (Jerry Mathers) encontra um cadáver deitado na relva e vai correndo contar a novidade à mãe (Shirley MacLaine, impagável em seu primeiro papel). É o estranho humor que faz o encanto desta comédia ao mesmo tempo lírica e macabra. Hitchcock contou com uma trilha sonora irônica (a primeira de Bernard Herrmann para ele), com um elenco inspirado e diálogos irresistíveis de seu roterista habitual, John Michael Hayes. ☺☺☺
  • Um Corpo Que Cai (Vertigo, 1958) James Stewart está perfeito como o detetive que sofre de acrofobia e segue uma misteriosa loira (Kim Novak) a pedido do marido- um velho amigo seu que acredita em reencarnação. Ela anda obcecada pela vida de uma mulher do século 19, muito semelhante a si mesma. Tudo indica que Hitchcock está tramando uma história de assombração, mas neste filme todas as aparências enganam. Ambientada em uma coloridíssima San Francisco, é uma das maiores obras de arte da história do cinema, para ver e rever- sempre com o mesmo prazer. ☺☺☺☺☺
  • Intriga Internacional (North by Northwest, 1959) Cary Grant na pele do publicitário Roger Tornhill cumpre uma via crúcis pelo interior dos EUA, em ônibus, trens e automóveis, para provar a espiões estrangeiros que não é o agente da CIA Kaplan (que aliás não existe). Sequências antológicas, como a do ataque a Torhill no meio de um milharal por um avião pulverizador em vôos rasantes, revelam a faceta kafkiana de Hitchcock, ao situar o homem, sozinho e indefeso, diante de forças que ele não compreende e das quais não pode fugir. Um dos filmes emblemáticos do mestre. ☺☺☺☺☺
  • Psicose (Psycho, 1960) Primeiro exercício de horror puro de Hithcock, é a história do pertubado Normam Bates (Anthony Perkins) que aparentemente é dominado pela mãe, que o obriga a cometer assassinatos. Psicose é a verdadeira semente de todos os serial killers do cinema. Baseado no caso real do canibal Ed Gein que também inspirou outro clássico O Massacre da Serra Elétrica, mostra que o verdadeiro horror (aquele de tirar o sono) não reside no sobrenatural, no fantástico, como era a ordem dos filmes de terror da época; mas no cotidiano moderno, bem ao nosso lado. Depois de Psicose o cinema de terror nunca mais foi o mesmo. ☺☺☺☺☺

  • Os Pássaros (The Birds, 1963) Depos de Psicose, Hitchcock ficou dois anos sem filmar, pensando como poderia emocionar o público de uma forma que a TV jamais seria capaz. A resposta veio com Os Pássaros, cuja a idéia básica foi inspirada num conto de Daphne du Maurier (a mesma de Rebecca). Melania Daniels (Tippi Hedren, mãe de Melanie Griffith) sai de San Francisco e vai para Bodega Bay levar um casal de passarinhos para a irmãnzinha de Mitch Brenner (Rod Taylor). A presença da forasteira e seu embate com a mãe possessiva de Mitch (Jessica Tandy) parecem desencadear lentamente a catástrofe. Cansados de serem engaiolados, agora são os pássaros que enjaulam os homens. Segundo Truffaut, "o cinema foi inventado para que semelhante filme pudesse ser feito". ☺☺☺☺☺
  • Marnie, Confissões de uma Ladra (Marnie, 1964) Um apimentado conto de fadas de Hitchcock. O empresário Mark Rutland (Sean Connery) descobre que além de belas pernas, sua secretária Marnie Edgard (Tippi Hedren) tem mãos leves. É um filme notável pelo desenvolvimento do suspense e hábil composição de personagens complexos. Particulamente interessante ver, mais uma vez a forma como Hitch retratava as mães dos seus filmes, sendo a maioria seres desequilibradas, possessivas ou beirando ao ridículo. Uma estranha obsessão de Hitch. E Sean Connery mostra que já era um ótimo ator, equilibrando charme e humor como poucos e conseguindo desvincular sua persona do 007. ☺☺☺
  • Frenesi (Frenzy, 1972) Penúltimo filme do diretor, marcou seu retorno à sua Inglaterra natal depois de mais de vinte anos trabalhando nos Estados Unidos. Hitchcock decidiu encerrar sua carreira com uma história do tipo Jack, o estripador. Para isso, voltou à sua Londres, contratou atores desconhecidos, em uma produçao modesta para contar o drama de um pobre desempregado (Jon Finch, do Macbeth de Polanski) que é confundido com o criminoso conhecido como "o assassino da gravata", sem saber que o verdadeiro culpado está bem próximo. O diretor realizaria mais um filme, mas esta é sua verdadeira despedida do cinema. Frenesi é um filme-síntese, retomando alguns temas constantes na obra de Hitchcock- a transferência da cupla, o falso culpado, crimes de natureza sexual, a busca desesperada pela verdade- entremeados de um humor britânico e de um requinte narrativo, que explora ao máximo os recursos da linguagem cinematógrafica (repare como Hitch mostra o primeiro assassinato e depois todos os outros são cometidos sem nós vermos, no entanto o horror e o efeito são os mesmos) para integrá-los num todo harmonioso, em que nada parece excessivo ou fora de ordem. ☺☺☺☺☺
  • Trama Macabra (Family Plot, 1976) O derradeiro trabalho do mestre absoluto do suspense, demonstra que ele guardou até o fim seu humor terrível, pregando-nos uma última e devastadora peça. Um motorista de táxi, uma vidente charlatã e um cobiçado herdeiro desaparecido são personagens que Hitchcock desenvolve com complexidade e direção precisa. Ele expõe minunciosamente suas personalidades (ridiculamente ingênuas) e depois arma as complexas ligações envolvendo sequestro, jóias e muitos dólares. ☺☺☺
Abaixo meu Top 5 Hitchcock:
1. Um Corpo Que Cai
2. Janela Indiscreta
3. Psicose
4. Os Pássaros
5. Festim Diabólico

    segunda-feira, 14 de julho de 2008

    Hitchcock Parte II


    Essa odisséia pela obra de Hitchcock é uma das coisas mais divertidas para se fazer, alguns filmes assisti recentemente (ontem!) outros tenho que resgatar da memória, não com muito esforço pois todos seus filmes são para mim memoráveis. Aí vai a segunda parte.

    • Quando Fala o Coração (Spellbound,1945) Para quem espera alta carga de tensão devido ao título de mestre de suspense que acompanha Hitchcock, o filme pode desapontar. Com roteiro do intelectual Ben Hecht, o argumento adaptado de um livro de Francis Beeding tornou-se anacrônico em seus meandros "freudianos". É verdade que alguns se justificam, já que a personagem central é uma psicanalista (Ingrid Bergman). Dedicada a profissão, ela se apaixona por um sujeito (Gregory Peck) que se apresenta como novo diretor da intituição onde trabalha, mas depois se revela dono de problemas mentais e suspeito de assassinato. Mas o filme é envolvente, o tema do falso culpado, tão frequente em Hitchcock, permitiu uma criação então inovadora nas suas soluções formais (os movimentos de câmera, o uso dos desenhos de Salvador Dali) e na atmosfera tensa. Esse clima torna-se vibrante no desenrolar do romance central, realçado pela atuação da luminosa Bergman no primeiro dos três filmes que fez sob as ordens do brilhante diretor inglês. ☺☺☺
    • Interlúdio (Notorious, 1946) O filme tem como cenário de boa parte de sua história o Brasil. Claro que Cary Grant e Ingrid Bergman nunca estiveram aqui, e o país que se vê é apenas back-projection. O que vale mesmo é a história passada logo depois da Segunda Guerra, que envolve um agente do serviço secreto (Grant), um espião nazista (Claude Rains) e Bergman. O clímax da sequência na escadaria da mansão onde mora o vilão é um dos melhores momentos de suspende do cinema. ☺☺☺☺
    • Festim Diabólico (Hope, 1948) O primeiro filme colorido de Hitchcock utiliza-se apenas de um cenário: o apartamento onde foi cometido um assassinato. A história é uma vertigem de perversidade. Dois jovens, ligados por um caso homossexual (John Dall e Farley Granger), estrangulam um companheiro e convidam sua família, noiva e amigos em comum para jantar, até o professor deles (o insuperável James Stewart) desconfiar que algo esta errado. A ação se desenrola num pequeno período de tempo, o entardecer. E esse desenvolvimento se dá com a elegância de uma poesia de cenas longas, ambientação teatral e as ousadas tomadas longas, com cortes disfarçados, como se o filme todo se desenrolasse em um único plano-sequência. Uma aula de cinema. ☺☺☺☺☺
    • Sob o Signo de Capricôrnio (Under Capricorn, 1949) Em 1831, homem (Michael Wilding) sai da Irlanda e vai viver na Austrália, onde um primo se tornou um poderoso político. Lá ele conhece um rico proprietário de terras (Joseph Cotten) e sua esposa (Ingrid Bergman), que o homem já conhecia desde a infância na Irlanda. Suspense praticamente não há, Hitchcock desenvolve habilmente a psicologia perturbada de seus personagens (em especial de Bergman), muitos consideram esse um de seus filmes mais belos, mas o fato é que não me agradou muito, talvez na época que vi não tivesse disposta para o tipo de conflito aqui exposto, um revisão em breve pretendo fazer. ☺☺
    • Pavor nos Bastidores (Stage Fright 1950) Jane (Jane Wyman) resolve ajudar o amigo Jonathan (Richard Todd), acusado de matar o marido da amante, a atriz Charlotte (MarleneDietrich) . Para isso, ela se infiltra na vida da atriz como governanta, tentando provar que Charlotte é a verdadeira responsável pelo crime. Filme considerado menor na filmografia do diretor, o que nem por isso o desmerece já que há uma reviravolta no final do filme genial, que muito desagradou a crítica da época e também a Hitchcock, afinal de contas um falso flashback não era coisa que se fazia na época e todos consideraram isso um erro, o tempo, porém veio comprovar o quanto a frente dos outros diretores estava Hitch. ☺☺☺
    • A Tortura do Silêncio (I Confess, 1943) O Padre Logan (Montgomerry Cliff) ouve a confissão de um homem que cometeu um assassinato. Quando todas as evidências apontam Logan como o assassino, o padre se debate em uma crise moral e vê seu passado não muito religioso vir a tona. Mestre em esmiuçar conflitos de consciência, a auto-tortura do padre é quase insuportável, realçada ainda mais pela atuação angustiada de Cliff (Hitchcock odiou trabalhar com o ator). ☺☺☺
    • Janela Indiscreta (Rear Window, 1954) Chego finalmente ao meu filme predileto de Hitchcock. O filme é uma bela e bem realizada homenagem que o diretor presta ao cinema e a si mesmo, baseada em um conto do escritor policial Cornell Woolrich. Um fotográfo (James Stewart), preso a uma poltrona por uma perna quebrada, se diverte vendo as vária cenas da vida de seus vizinhos, e um deles comete um crime. Clímax perfeito de suspense soberbamente equilibrado com um humor malicioso e que ainda encontra tempo para analisar a relação homem-mulher através dos personagens de Stewart e Grace Kelly. ☺☺☺☺☺
    • Disque M para Matar (Dial M for Murder, 1954) Ex-jogador de tênis (Ray Milland) quer ficar com a fortuna da esposa (Grace Kelly), e chantageia um aventureiro (Anthony Dawson) para que este a mate segundo um plano perfeito. O filme é a quintessência do suspense hitchcockiano, com sua perversa manipulação do tempo, do olhar e da expectativa do público. Nos dois terços seguintes do filme, o desenvolvimento é de enigma policial cerebral à moda inglesa. Hitchcock "limita-se" então a mostrar toda a sua habilidade em dirigir poucos personagens num único recinto sem jamais entediar o espectador. ☺☺☺☺

    quinta-feira, 10 de julho de 2008

    Hitchcock Parte I


    Resolvi hoje falar de alguns filmes de meu diretor favorito: Alfred Htchcock. Afinal quem não gosta de pelo menos um de suas numerosas obras-primas? Ainda existem vários filmes, alguns clássicos como Pacto Sinistro (1951), A Dama Oculta (1938) e O Homem Que Sabia Demais (1956), para eu assistir e poder avaliar melhor a obra desse diretor. Mas pelo que vi já é possível fazer um pequeno apanhado. Aqui segue a primeira parte.

    • O Homem Que Sabia Demais (The Man Who Knew Too Much, 1934) Casal de ingleses passa férias na Suíça acompanhados da filha, quando são surpreendidos por um crime. A vítima, antes de morrer, confia ao casal a informação de que um embaixador estrangeiro em Londres sofrerá um atentado. Terroristas descobrem o casal e sequestram a filha deles para garantir o silêncio. Um dos filmes mais fracos que vi de Hitch (considerando, claro sua filmografia extraordinária), a história em certo ponto fica muito confusa e não há empatia nenhuma com os protagonistas, o melhor mesmo fica por conta de Peter Lorre uma vez mais na persona de vilão. Fica contudo a curiosidade de ver o remake realizado em 1956 em Hollywood. ☺☺
    • Os 39 Degraus (The 39 Steps, 1935) Da fase inglesa de Hithcock, é considerado como a sua primeira obra-prima acabada. Estava no seu elemento espionagem e suspense. E Também já estava deixando em ponto de bala sua célebre fórmula: um homem é acusado de um crime e precisa perseguir o criminoso para provar sua inocência. Mas aqui o diretor exorbita na invenção. A idéia de ligar por um par de algemas este homem e a garota que o toma por um perigoso assassino é provavelmente a mais aguda metáfora que o cinema criou do amor ( prenunciado ainda quando os dois acham que se odeiam). E Mr. Memory, personagem que entra apenas no final , é um dos mais belos e trágicos tipos criados pelo grande mestre. É um filme para se ver de joelhos. ☺☺☺☺☺
    • Rebecca, A Mulher Inesquecível ( Rebecca, 1940) Primeiro filme de Hithcock nos EUA, produzido por David O. Selznick (quando ainda colhia os louros por ...E o Vento Levou). Adaptação do livro homônimo de Daphne Du Marier (que alguns consideram plagio do romance brasileiro "A Sucessora"). É história de uma jovem humilde (Joan Fontaine), que se casa com um inglês muito rico (Laurence Oliver) e vai morar na mansão na qual ele vivera por muito anos com a sua primeira esposa, Rebecca. O filme, na verdade, especula sobre medo, angústia, paranóia e o sobrenatural, escondidos atrás de fatos aparentemente normais. Exatamente o tipo de material que Hitch precisava para impor seu estilo. Não por acaso, Rebecca foi premiado pela Academia, virou clássico e deu muito dinheiro a Selznick. ☺☺☺☺☺


    • Sabotador (Saboteur, 1942) O fato que inspirou o roteiro deste quinto filme americano de Hithcock foi a existência nos EUA de organizações pró-nazistas extremamente atuantes. BarryKane (Robert Cummings), jovem empregado de uma fábrica de aviões militares, é acusado de incendiar suas instalações. Empenhado ao mesmo tempo em escapar da polícia e encontrar o verdadeiro sabotador- um certo Fry (Norman Lloyd)- Kane empreende uma via crúcis de ponta a ponta dos EUA. Hithcock considerava o excesso de idéias o principal defeito deste filme, contudo é um dos filmes mais divertidos do diretor. ☺☺☺☺
    • A Sombra de uma Dúvida (Shadow of a Doubt, 1943) O filme preferido do mestre e de muitos críticos. Na história Tio Charlie (Joseph Cotten) vem visitar seus parentes na cidadezinha de Santa Rosa, mas sua sobrinha, também chamada Charlie (Teresa Wright), começa a suspeitar de que ele é o famoso assassino da viúva alegre, que saiu da Filadélfia para a Califórnia fugindo da Lei. O andamento é lento propositalmente para captar o modo de vida interiorano de americano e a psicologia de seus personagens nunca foram tão bem trabalhados pelo mestre quanto nesse filme. ☺☺☺☺
    • Um Barco e Nove Destinos (Lifeboat, 1944) Após uma batalha no Atlântico durante a Segunda Guerra, envolvendo um navio e um submarino alemão, alguns sobreviventes tentam escapar em pequeno barco. Eles resgatam um naufrago alemão e daí cresce a tensão do grupo por causa dos diferentes posto de vista de cada um. Um trabalho primoroso de Hitch que evidenciam seu talento e manipular as expectativas do público somente se utilizando de personagens complexos e uma trama engenhosa (aqui neste filme nem tanto, a trama até que é simples), sem nenhum efeito ou exagero. ☺☺☺

    terça-feira, 8 de julho de 2008

    Três Vezes Polanski


    Faz tempo que não atualizava o blog com novos filmes assistidos/ comentários, estava, pra falar a verdade, sem muita paciência e sem idéias. Bom no último post havia comentado filmes de James Dean, um dos atores mais talentosos e por vezes subestimado pela crítica, gostei da idéia e vou comentar sobre a "Trilogia do apartamento" de Roman Polanski, aproveitando que acabei de rever "O Bebê de Rosemary". Em todos eles, o espaço é palco privilegiado para a exposição dos delírios persecutórios do protagonista, importando menos a realidade das ameaças que a intensidade da paranóia. E todos eles, guardadas a devidas proporções, são obras-primas.


    • Repulsa ao Sexo (Repulsion, 1965) Primeiro longa- metragem de Polanski feito fora da Polônia, é também um de seus melhores trabalhos. Em Londres, a bela e tímida manicure Carol (Catherine Deneuve, excepcional) mergulha num processo crescente de esquizofrenia e passa a matar os homens que tentam se aproximar dela. O diretor não só realizou um filme aterrorizante como lançou as bases de um estilo de cinema singularíssimo, que vai buscar nos detalhes cotidianos e domésticos a fonte do horror. ☺☺☺☺☺
    • O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby, 1968) Nenhuma manifestação demoníaca foi mais devastadora no cinema do que a criada aqui por Polanski. Não que seu Belzebu tivesse a aparência da encarnação do mal com chifres e patas de bode, com tridente em mãos e cuspindo fogo. Muito pelo contrário: para ele, o demônio pode ser qualquer um, seja sua vizinha legal, seu melhor amigo, seja até mesmo a pessoa com que você divide sua vida. E foi com esse mal que a jovem Rosemary (Mia Farrow) se deparou. À medida que o filme avança mostrando muito pouco e sugerindo bastante, descobrimos que seu marido, Guy (John Cassavetes), pode não ser aquele sujeito bacana que aparenta. Pior ainda: a vida que ele traz em seu ventre pode ser sinal de quem nem a inocência está livre da influência do demônio. Roman Polanski sabia disso, e estraçalhou nossa inocência quando sugeriu que o mal, ao contrário do que possamos pensar, está bem mais próximo do que se imagina. ☺☺☺☺☺

    • O Inquilino (Locataire, 1976) Polanski conclui a "trilogia" matendo o mesmo clima eficiente de perseguição, angústia, claustrofobia e loucura que envolvia os personagens centrais dos filmes anteriores. Desta vez, a vítima é o retraído Trelkovsky (o próprio Polanski), exilado polonês em Paris. Ele aluga o mesmo apartamento de pensão em que, para seu horror, se suicidou a inquilina anterior. E vai percebendo, lentamente que a zeladora (Shelley Winters), o senhorio (Melvyn Douglas) e suas duas vizinhas (Lila Kedrova e Jo Van Fleet) agem muito estranhamente, tratando-o como se ele fosse a suicida. Cada vez mais apavorado, Trelkovsky se envolve num misto de amizade e sedução com Stella (Isabelle Adjani), amiga da morta, e começa a se interessar pelas roupas, maquiagem e coisas da ex-inquilina. Elenco de primeira e fotografia excepcional de Sven Nykvist (dos filmes de Bergman). Este foi o primeiro filme do diretor depois que se exilou na França ao fugir dos EUA para não ser preso sob a acusação de pedofilia. Levando em conta que Sharon Tate, mulher do diretor, foi assassinada em 1969 por fanáticos satanistas quando estava grávida, não é à toa que Polanski tem obsessões mórbidas em seus enredos e sabe usá-las com muito talento. ☺☺☺☺