Chegou ontem ao fim minha pequena peregrinação pelos filmes de gangsteres lançados em DVD na coleção da Warner. Todos estão em cópias caprichadas, contendo um pequeno documentário sobre a produção, cartoons da época e trailer original. Um presente para os fãs. Eu que não era fã virei. E virei especialmente fã de James Cagney que protagoniza quatro dos seis títulos.
Alma no Lodo (Little Caesar, 1930) História da ascensão e queda de Enrico Bandelo ou simplesmente Rico (Robert G. Robinson) que de marginalzinho passa a chefão da máfia de Chicago. O filme envelheceu um bocado, mas foi um dos pilares do gênero gangster. Existe inúmeras falhas de roteiro, interpretação e técnica. Mas fico imaginando o efeito que causou na época. O cinema sonoro estava dando seus primeiros passos e é notável como o filme utiliza bem o som através do barulho das metralhadoras e de alguns bons diálogos. Também é filme dirigido (por Mervyn LeRoy) com muita agilidade e sem maneirismo teatrais (como se pode ver em vários filmes da mesma época). A fala final é antológica. ☺☺☺
*Existe uma interessante crítica feita sobre o filme por Régis Trigo no Cineplayers neste link.
Inimigo Público nº 1 (The Public Enemy,1931) Este aqui já é bem mais interessante e bem feito, mesmo visto 77 anos depois ainda causa impacto, sobretudo na cruel cena final. James Cagney é Tom Powers, um bandido que vive na época da Lei Seca. O filme acompanha Powers desde a infância como Ladrãozinho ao lado de um amigo, até sua ascensão meteórica no mundo do crime. Neste filme Cagney forjou sua persona de gangster cruel, isso graças a um golpe de sorte, já que estava escalado para um papel menor. Talvez seja o talento de Cagney que torne esse filme tão interessante, ele consegue causar repulsa com a mesma facilidade que causa simpatia lançando um de seus olhares ou trejeitos. Há também a participação em um pequeno mais marcante papel de Jean Harlow, que prova que beleza não põe mesa. Não que fosse talentosa, mas ela tinha uma presença forte em cena. Dirigido por William A. Wellman do premiado filme Asas (1929). ☺☺☺
Floresta Petrificada (The Petrified Forest, 1936) No espaço claustrofóbico de um bar no meio do deserto, onde um gangter foragido (Humphrey Bogart) as mantém como reféns, o medo e a tensão faz as personagens de Floresta Petrificada se despirem psicologicamente. O frustrado escritor Alan Squier (Leslie Howard) encontra uma forma insólita e intensa de demonstrar o amor recém- descoberto por Gabrielle (Bette Davis, surpreendente bonita antes de virar megera em dezenas de filmes), a garçonete do bar, que lê poesias e sonha em voltar a França, onde nasceu. É teatro filmado dos mais palavrosos, a primeira parte é muito cansativa, e é só quando entra em cena o personagem durão de Bogart que a coisa fica mais interessante, porém não o sufiente. O mais fraco da seleção, que nem se justifica muito como filme de gangster. E o talento de Davis é muito mal aproveitado pelo diretor Archie Mayo. ☺☺
Anjos de Cara Suja (Angels With Dirty Faces, 1938) Rocky Sullivan, personagem de James Cagney, é conhecido no bairro onde vive por sua trajetória no submundo do crime e visto como um herói pelas crianças da cidade que tentam seguir seus passos. O Padre Connolly (Pat O' Brien), que foi criado na mesma vizinhança, tenta acabar com a influência de Rocky sobre o bairro. O final surpreendente de Anjos de Cara Suja torna a obra inesquecível. Há ainda a primeira parceria de Cagney com Humphrey Bogart. Competente a direção de Michael Curtiz, um diretor subestimado, que só é lembrado hoje em dia por Casablanca (1942). ☺☺☺☺
Heróis Esquecidos (The Roaring Twenties, 1939) O ponto de partida de Heróis Esquecidos são os noticiários da época da Lei Seca. O longa segue a trajetória do veterano de guerra Eddie Bartlett (Cagney) que, após ficar desempregado, entra para o comércio ilegal de bebidas. Quando seus negócios começam a prosperar, ele tem que enfrentar duras batalhas, incluindo aí um inesquecível confronto com Humphrey Bogart. Filmaço de Raoul Walsh, um dos mestres clássico de ação/aventura. ☺☺☺☺
Fúria Sanguinária (White Heat, 1949) A obra trata da vida de Cody Jarrett, um homem de temperamento impulsivo, dentro e fora da cadeia. Jarrett assassina um cúmplice ferido e se diverte com o ato. Ele rejeita sua mulher, mas venera sua mãe possessiva. A interpretação de James Cagney, que vive Jarret, é considerada uma das melhores de sua carreira, e não é à toa, embora o filme já seja excelente e conte com uma direção primorosa de Raoul Walsh, Cagney é toda a alma do filme, misturando sarcasmo e crueldade de maneira sensacional. Foi o primeiro filme dele que eu vi, o que me impressionou demais, não esperava que o filme fosse tão bom e forte, apesar de todo um histórico de filmes violentos que vi. Resumindo: um dos meus filmes preferidos. ☺☺☺☺☺