sábado, 21 de junho de 2008

Semana Fassbinder


Quarenta e três filmes realizados ao longo de 16 anos de uma vida que durou 37 anos já impressionariam apenas por critérios estatísticos. Porém, tal como Balzac, para Fassbinder o cinema foi o espelho em que buscou expor as cicatrizes da sociedade alemã e, para isso, muito nunca lhe parecia demais.
Nascido sob as cinzas do nazismo, em maio de 1945, Rainer Werner Fassbinder cresceu com o "milagre econômico" de Konrad Adenauer (chanceler de 1949 a 1963), período durante o qual a ênfase na econômia de mercado aliada a um anticomunismo feroz foi a receita para apagar da memória a barbárie. E sua obra coincide com a ascensão ao poder dos social- democratas, quando os traumas encontravam um remédio suficiente no conforto do consumismo.
Pude essa semana me inteirar um pouco mais profundamente sobre a obra de Fassbinder do qual vi poucos filmes o que permitiu ver em que medida a história não vive apenas do passado, projetando suas sombras sobre o porvir.


Além de uma arguto cronista de seu tempo, Fassbinder foi, mais ainda, um artista obcecado em revelar aos olhos de muitos os efeitos perversos de um modelo social calcado exclusivamente nas forças do individualismo. Suas histórias de amor, de traição, de paixão e de vingança são de fato narrativas políticas, em que as relações íntimas são acima de tudo relações de poder, de submissão e de obediência. "Para mim, o amor é o melhor, o mais insidioso e o mais eficaz instrumento de opressão social", escreveu o diretor.
A tese começa a ser demonstrada no primeiro longa, com o sugestivo título de "O Amor È Mais Frio que a Morte", e, também com "Precaução Ante uma Prostituta Santa", mas essa fase ainda se ressente de intenções demasiado teóricas.


È a partir de 1971, quando Fassbinder descobre os melodramas flamejantes de Douglas Sirk (diretor alemão que consolidou o gênero em Hollywood em filmes como "Palavras ao Vento" e "Tudo que o Céu Permite"), que as armadilhas dos sentimentos encontraram uma forma mais bem acabada de expressão em sua obra.
"As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant" marca o início dessa fase, que já se abre em apogeu. Nessa espécie de filme de Sirk relido por Brecht, a emoção teatralizada de Petra e sua submissão à amante apontam o caminho para Fassbinder interpretar a junção do individual e do social.
"Eu Só Quero que Vocês me Amem" e "Num Ano com Treze Luas" insistem em mostrar, com crueldade, que a ingenuidade tem um preço caro a pagar numa sociedade movida pelo mecanismo de compra e venda.
O sucesso internacional veio com "O Casamento de Maria Braun", retrato perfeito de uma Alemanha que sobrevive às ruínas e se reconstrói à custa do comércio da alma e do corpo.
Já perto do fim de sua obra vem a obra- prima "O Desespero de Veronika Voss" em que os fantasmas pessoais se tornaram indistintos dos da Alemanha e o resultado é um filme expressionista aterrorizante.
Abaixo meu top 5 Fassbinder:
  1. O Desespero de Veronika Voss (1981)
  2. O Casamento de Maria Braun (1978)
  3. Lili Marlene (1980)
  4. Lola (1981)
  5. Num Ano com Treze Luas (1978)

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