
A história narrada em Vestida para Matar é toda inspirada em Psicose (1960), o mais famoso e imitado Hitchcock. Logo de cara, De Palma refaz a famosa cena do chuveiro, com Angie Dickinson, devidamente assessorada por uma dublê (um expediente que o inspirou a fazer, quatro anos depois Dublê de Corpo), sendo atacada por uma estranho. É o primeiro de muitos truques e sustos que virão pela frente. Em um terço de filme, Dickinson terá seu fim trágico e sanguinolento, assim como Janet Leigh em Psicose. Seu assassinato, certamente a sequência mais marcante e assustadora do filme, acontece dentro de um elevador, onde uma mulher loira, usando óculos escuros e uma afiada navalha, corta-a em tiras, sem fazer cerimonia. O crime é testemunhado pela prostituta interpretada por Nancy Allen, que foi casada com De Palma, que toma o lugar de Angie Dickinson como protagonista.
Começa, então a segunda parte da trama. Assustada e pressionada pela polícia, Allen empenha-se em descobrir a identidade do psicopata, contando com a ajuda do filho da vítima (Keith Gordon), uma mistura de nerd e gênio em eletrônica. Todas as pistas levam a crer que o criminoso é um dos pacientes do psiquiatra interpretado por Michael Caine, que também prestava serviços à falecida Dickinson. Assim como o padre Montgomery Clift do clássico A Tortura do Silêncio, Caine, por causa da ética profissional, não pode revelar a identidade do principal suspeito, um desequilibrado que adora se vestir de mulher.
Vestida Para Matar tem inegáveis falhas estruturais e de roteiro, mas é impossível resistir a quatro sequências isoladas: o show de câmera subjetiva e travellings dentro do Metropolitan Museum, que começa com o assédio de um admirador de Dickinson e termina em sacanagem num táxi; o já citado massacre do elevador; a delirante perseguição no metrô de Nova York e a visita noturna que Allen e Gordon fazem ao consultório do psiquiatra, quando o mistério é finalmente esclarecido. Em todas essas cenas, De Palma, ajudado pela música grandiloquente de Pino Donaggio (clone menos talentoso de Bernard Herrmann e habitual colaborador do diretor), parece querer explicitar seu inegável domínio com a câmara. Hitchcock, onde quer que esteja, aplaude de pé.
☺☺☺☺
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