domingo, 15 de março de 2009

Vestida Para Matar (Dressed to Kill, 1980)

Bons tempos aqueles onde existia um bom diretor que imitava e copiava descaradamente a obra de Hitchcock e que nos presenteava com grandes obras, as vezes primas. Com o remake de Janela Indiscreta engatilhado me dá até calafrios quando lembro das outras refilmagens que fizeram de Hitch (vide Psicose, de 1998 assinada por Gus Van Sant). Resolvi então rever uma obra do melhor e mais qualificado discípulo do mestre inglês, Brian de Palma, que em 1973 revelou sua admiração em Irmãs Diabólicas, e continuou, em seus filmes posteriores a lançar mão do estilo Hitchcockiano, as vezes implicitamente e outras descaradas. Vestida Para Matar se enquadra no segundo estilo. Apesar de alguns excessos, é uma festa para os olhos e uma ameaça para o cardíacos.

A história narrada em Vestida para Matar é toda inspirada em Psicose (1960), o mais famoso e imitado Hitchcock. Logo de cara, De Palma refaz a famosa cena do chuveiro, com Angie Dickinson, devidamente assessorada por uma dublê (um expediente que o inspirou a fazer, quatro anos depois Dublê de Corpo), sendo atacada por uma estranho. É o primeiro de muitos truques e sustos que virão pela frente. Em um terço de filme, Dickinson terá seu fim trágico e sanguinolento, assim como Janet Leigh em Psicose. Seu assassinato, certamente a sequência mais marcante e assustadora do filme, acontece dentro de um elevador, onde uma mulher loira, usando óculos escuros e uma afiada navalha, corta-a em tiras, sem fazer cerimonia. O crime é testemunhado pela prostituta interpretada por Nancy Allen, que foi casada com De Palma, que toma o lugar de Angie Dickinson como protagonista.

Começa, então a segunda parte da trama. Assustada e pressionada pela polícia, Allen empenha-se em descobrir a identidade do psicopata, contando com a ajuda do filho da vítima (Keith Gordon), uma mistura de nerd e gênio em eletrônica. Todas as pistas levam a crer que o criminoso é um dos pacientes do psiquiatra interpretado por Michael Caine, que também prestava serviços à falecida Dickinson. Assim como o padre Montgomery Clift do clássico A Tortura do Silêncio, Caine, por causa da ética profissional, não pode revelar a identidade do principal suspeito, um desequilibrado que adora se vestir de mulher.

Vestida Para Matar tem inegáveis falhas estruturais e de roteiro, mas é impossível resistir a quatro sequências isoladas: o show de câmera subjetiva e travellings dentro do Metropolitan Museum, que começa com o assédio de um admirador de Dickinson e termina em sacanagem num táxi; o já citado massacre do elevador; a delirante perseguição no metrô de Nova York e a visita noturna que Allen e Gordon fazem ao consultório do psiquiatra, quando o mistério é finalmente esclarecido. Em todas essas cenas, De Palma, ajudado pela música grandiloquente de Pino Donaggio (clone menos talentoso de Bernard Herrmann e habitual colaborador do diretor), parece querer explicitar seu inegável domínio com a câmara. Hitchcock, onde quer que esteja, aplaude de pé.

☺☺☺☺

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