
Faz tempo que não atualizava o blog com novos filmes assistidos/ comentários, estava, pra falar a verdade, sem muita paciência e sem idéias. Bom no último post havia comentado filmes de James Dean, um dos atores mais talentosos e por vezes subestimado pela crítica, gostei da idéia e vou comentar sobre a "Trilogia do apartamento" de Roman Polanski, aproveitando que acabei de rever "O Bebê de Rosemary". Em todos eles, o espaço é palco privilegiado para a exposição dos delírios persecutórios do protagonista, importando menos a realidade das ameaças que a intensidade da paranóia. E todos eles, guardadas a devidas proporções, são obras-primas.
- Repulsa ao Sexo (Repulsion, 1965) Primeiro longa- metragem de Polanski feito fora da Polônia, é também um de seus melhores trabalhos. Em Londres, a bela e tímida manicure Carol (Catherine Deneuve, excepcional) mergulha num processo crescente de esquizofrenia e passa a matar os homens que tentam se aproximar dela. O diretor não só realizou um filme aterrorizante como lançou as bases de um estilo de cinema singularíssimo, que vai buscar nos detalhes cotidianos e domésticos a fonte do horror. ☺☺☺☺☺
- O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby, 1968) Nenhuma manifestação demoníaca foi mais devastadora no cinema do que a criada aqui por Polanski. Não que seu Belzebu tivesse a aparência da encarnação do mal com chifres e patas de bode, com tridente em mãos e cuspindo fogo. Muito pelo contrário: para ele, o demônio pode ser qualquer um, seja sua vizinha legal, seu melhor amigo, seja até mesmo a pessoa com que você divide sua vida. E foi com esse mal que a jovem Rosemary (Mia Farrow) se deparou. À medida que o filme avança mostrando muito pouco e sugerindo bastante, descobrimos que seu marido, Guy (John Cassavetes), pode não ser aquele sujeito bacana que aparenta. Pior ainda: a vida que ele traz em seu ventre pode ser sinal de quem nem a inocência está livre da influência do demônio. Roman Polanski sabia disso, e estraçalhou nossa inocência quando sugeriu que o mal, ao contrário do que possamos pensar, está bem mais próximo do que se imagina. ☺☺☺☺☺

- O Inquilino (Locataire, 1976) Polanski conclui a "trilogia" matendo o mesmo clima eficiente de perseguição, angústia, claustrofobia e loucura que envolvia os personagens centrais dos filmes anteriores. Desta vez, a vítima é o retraído Trelkovsky (o próprio Polanski), exilado polonês em Paris. Ele aluga o mesmo apartamento de pensão em que, para seu horror, se suicidou a inquilina anterior. E vai percebendo, lentamente que a zeladora (Shelley Winters), o senhorio (Melvyn Douglas) e suas duas vizinhas (Lila Kedrova e Jo Van Fleet) agem muito estranhamente, tratando-o como se ele fosse a suicida. Cada vez mais apavorado, Trelkovsky se envolve num misto de amizade e sedução com Stella (Isabelle Adjani), amiga da morta, e começa a se interessar pelas roupas, maquiagem e coisas da ex-inquilina. Elenco de primeira e fotografia excepcional de Sven Nykvist (dos filmes de Bergman). Este foi o primeiro filme do diretor depois que se exilou na França ao fugir dos EUA para não ser preso sob a acusação de pedofilia. Levando em conta que Sharon Tate, mulher do diretor, foi assassinada em 1969 por fanáticos satanistas quando estava grávida, não é à toa que Polanski tem obsessões mórbidas em seus enredos e sabe usá-las com muito talento. ☺☺☺☺
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