sábado, 19 de julho de 2008

Do Romance à Ficção- Científica


Na minha viagem sobre a obra de Hitchcock acabei deixando de comentar alguns filmes que assisti no período. Vou começar pelos que melhor impressão me causaram, já que não gosto muito de ficar enchendo linguiça falando das podreiras que vi, mas chegará o seu tempo.

  • Lua de Fel (Bitter Moon, 1992) Roman Polanski nunca foi um cineasta previsível, independente dos altos (O Pianista) e baixos (Oliver Twist) das suas produções dos últimos anos. Ele tem no currículo, porém fantasias masoquistas e assustadoras como Repulsa ao Sexo (que já comentei). É deste filme que Lua de Fel mais se aproxima, mostrando o universo do casal Oscar (Peter Coyote) e Mimi (Emmanuelle Seigner), que explora obsessivamente todas as variantes sexuais possíveis. Eles se ligam a Nigel, um inglês certinho (Hugh Grant) que encontram em um cruzeiro marítimo. Enquanto Oscar e Mimi se atormentam entre a dor e paixão, o casal Nigel e Fiona (Kristin Scott-Thomas) busca exotismo em uma viagem à Índia, comemorando um casamento convencional que dura sete anos. O mistério da forte ligação entre Oscar e Mimi- um escritor frustrado e uma dançarina-, porém, alimenta a trama com tensão, crueldade e uma dose inevitável de mistério. Afinal, o que explica uma escolha afetiva? ☺☺☺
  • Macbeth- Reinado de Sangue (Macbeth, 1948) Feiticeiras profetizam um reinado de sangue quando Macbeth usa todas as forças para tornar-se rei da Escócia. Orson Welles sempre foi obcecado pelos temas da ambição, da traição e do poder. Assim, não foi por acaso que escolheu esta grande tragédia shakesperiana. Utilizando praticamente a mesma equipe de sua montagem da peça, Welles filmou seu Macbeth nos precários estúdios da Republic em 28 dias, ao custo de 800 mil dólares. O resultado de tour de force é uma tragédia expressionista, ao mesmo tempo fiel e transgressora em relação ao texto original. Com cenários e figurinos estilizados, paisagens lunares, sombras fantasmagóricas e enquadramentos oblíquos, o cineasta (em atuação memorável no papel-título) torna visível e quase palpável o inferno espiritual de Macbeth. Ainda assim prefiro a versão sangrenta que Roman Polanski realizou em 1971. ☺☺☺
  • Uma Lição de Amor (En Lektion i kärlek, 1954) Na mesma linha de Sorrisos de uma Noite de Amor, esta é mais uma comédia romântica de Ingmar Bergman antes da consagração definitiva por O Sétimo Selo e Morangos Silvestres (ambos de 1957). É daquele tipo de filme que se assisti sempre com um sorriso no rosto, não por ser engraçado, mas por ser extremamente agradável. Na história David (Gunnar Bjornstrand) e Marianne (Eva Dahlbeck) casados há 15 anos, revelam um ao outro que possuem amantes. Ele a trai com uma de suas pacientes e ela com um ex-namorado. Quando a Marianne viaja para encontrar o amante, David vai atrás em busca de uma reconciliação. O filme é praticamente feito de recordações, algo que Bergman sabe filmar com louvor. A pergunta que fica é, afinal do que se constitui um relacionamento? É isso que Bergman talvez queira estudar, apesar da aparente leveza do filme (eu não me iludo mais com seu filmes "leves", geralmente há interessantes significados embutidos). ☺☺☺
  • Metrópolis (Metropolis, 1926) Um dos últimos e mais fascinantes exemplos do cinema mudo (que acabaria no ano seguinte, com O Cantor de Jazz). É também um dos marcos da ficção científica, cujas influências chegam mais perceptivelmente em Blade Runner (1982) e nas ficções atuais. Seu espetacular desempenhode produção art déco futurista já basta para torná-lo um dos grandes clássicos do cinema expressionista alemão. A história não passa de um libelo simplista sobre uma sociedade injusta, que oprime trabalhadores e protege elites ociosas. Mas a narrativa épica de Fritz Lang (como nas inesquecíveis sequências com as massas de escravos-zumbis entrando nas fábricas) compensa qualquer ingenuidade. De quebra, há ainda o primeiro e mais bonito robô da história do cinema. Já as técnicas de interpretação no cinema mudo visavam algo completamente estilizado e artificial, que pudesse ao mesmo tempo prescindir dos diálogos falados e compensar sua ausência. Repare nas bizarras expressões faciais que a atriz Brigitte Helm usa para diferenciar seu papel duplo como Maria e o robô-sósia. Preciso urgente conhecer um pouco mais da obra de Lang, este foi o primeiro filme que assisti do cineasta. ☺☺☺☺☺

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